Todos os anos, na segunda terça-feira de fevereiro, o mundo celebra o Dia Internacional da Internet Segura (Safer Internet Day), uma iniciativa que visa promover o uso consciente, responsável e seguro da internet. Criado pela rede Insafe/INHOPE, com apoio da Comissão Europeia, o dia reforça a necessidade de ações para proteger os usuários, principalmente crianças e adolescentes, contra riscos digitais como golpes, vazamento de dados e cyberbullying.
A segurança na internet impacta diretamente o cotidiano dos indivíduos, pois a exposição a ameaças digitais pode resultar em consequências como roubo de identidade, fraudes financeiras e danos à reputação pessoal. Além disso, a prática do “oversharing” – compartilhamento excessivo de informações pessoais nas redes sociais – que pode comprometer a privacidade e a segurança dos usuários, tornando-os vulneráveis a diversos tipos de ataques cibernéticos.
As tecnologias avançam continuamente para garantir a segurança on-line; no entanto, é fundamental lembrar que a educação e a conscientização dos usuários desempenham um papel igualmente importante na prevenção de riscos digitais. A segurança na internet não depende apenas de medidas tecnológicas, mas também do comportamento e das escolhas individuais no ambiente digital. Cada usuário tem a responsabilidade de adotar boas práticas para se proteger e contribuir para um espaço virtual mais seguro.
Empresas, escolas e famílias têm um papel imprescindível na orientação sobre boas práticas online, como a criação de senhas seguras, a verificação de fontes confiáveis e o cuidado com a exposição excessiva de informações pessoais. Segundo estudo da SaferNet Brasil, divulgado em 2025, 72% dos jovens brasileiros já receberam notícias falsas em aplicativos de mensagens e redes sociais, e 62% admitiram ter dificuldades em identificar a veracidade dessas informações.
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Para que a educação digital seja efetiva, é fundamental contar com políticas públicas e legislações que promovam boas práticas de proteção de dados pessoais e privacidade. No contexto nacional, a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais trouxe avanços significativos na proteção da privacidade dos usuários, exigindo que empresas adotem medidas rigorosas para garantir a segurança e o correto tratamento dos dados pessoais.
Outro aspecto relevante é o fato de que a era digital trouxe inovações que transformaram a forma como indivíduos interagem, compartilham informações e acessam serviços. No entanto, esse avanço também gerou desafios significativos para a privacidade e a segurança on-line, exigindo soluções que equilibrem o desenvolvimento tecnológico com a proteção dos direitos fundamentais.
A coleta massiva de dados, muitas vezes sem consentimento claro, tem levantado preocupações sobre transparência e controle das informações pessoais. Um dos reflexos desse cenário é o crescimento das fake news. De acordo com um relatório da Reuters Institute, publicado no ano passado, 59% dos brasileiros temem que as notícias falsas afetem decisões políticas e sociais. Essa realidade evidencia a necessidade de capacitação dos indivíduos para avaliarem criticamente o conteúdo que consomem e compartilham.
Além disso, o aumento de ataques cibernéticos, como roubo de dados e invasões, reforça a urgência de medidas legais e técnicas eficazes. Casos como o vazamento massivo de dados da Serasa Experian em 2021, que expôs informações de 223 milhões de brasileiros, demonstram a importância da segurança digital.
Diante desse cenário, reforça-se a necessidade da conscientização de todos. Assim, a alfabetização midiática (media literacy) surge como uma solução indispensável para capacitar os indivíduos a avaliar criticamente o conteúdo que consomem e compartilham. O fortalecimento desse conhecimento, aliado a iniciativas de checagem de fatos e ao compromisso das instituições na mitigação da desinformação, pode reduzir os impactos negativos e promover um ambiente informacional mais confiável.
Ademais, a proteção de dados pessoais também se destaca como um desafio significativo, pois, com a crescente quantidade de informações pessoais armazenadas e compartilhadas digitalmente, tal prática se torna prioridade. Questões relacionadas ao tratamento de dados exigem uma legislação adequada, como a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil e o GDPR – Regulamento Geral de Proteção de Dados na União Europeia.
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Fica evidente que a construção de um ambiente digital seguro requer uma abordagem multidimensional que considere os direitos fundamentais dos indivíduos, as necessidades da segurança pública e a promoção da liberdade de expressão e do acesso à informação. A constante atualização das normas jurídicas e a atuação diligente das instituições são essenciais para garantir que a privacidade seja efetivamente protegida em um ambiente digital em constante evolução.
Mas além dos âmbitos legislativo e fiscalizatório, salienta-se que a segurança digital é uma responsabilidade coletiva que requer a participação ativa, inclusive, dos usuários da internet. Uma das medidas fundamentais é a educação digital, que envolve promover treinamentos e campanhas de conscientização sobre segurança cibernética. Ao adquirir conhecimento sobre os riscos on-line e as melhores práticas de navegação, os usuários tornam-se mais aptos a identificar e evitar ameaças como phishing, malware e fraudes digitais.
O uso de senhas fortes e únicas para cada conta é uma prática de alta relevância para prevenir acessos não autorizados. Além disso, a implementação da autenticação em duas etapas adiciona uma camada extra de proteção, dificultando o acesso de cibercriminosos às contas pessoais, mesmo que consigam obter a senha do usuário.
Outra medida crucial é o uso de tecnologias seguras. A implementação de ferramentas como a autenticação multifator e a criptografia de dados ajuda a proteger informações pessoais contra acessos não autorizados. Manter os dispositivos e aplicativos sempre atualizados é igualmente importante, pois as atualizações frequentemente contêm correções para vulnerabilidades de segurança conhecidas.
O uso de VPNs – redes privadas virtuais ao se conectar a redes Wi-Fi públicas pode proteger os dados transmitidos, evitando que sejam interceptados por terceiros mal-intencionados. As políticas de proteção de dados também desempenham um papel vital na segurança digital. Seguir regulamentos como a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil é essencial para garantir que as informações pessoais sejam tratadas de forma adequada e segura.
Ainda por parte dos titulares, é fundamental a criação da cultura de denunciar abusos e comportamentos inadequados no ambiente online. Fomentar canais de denúncia contra crimes digitais e apoiar iniciativas de combate ao discurso de ódio e ao assédio on-line são práticas que contribuem para a criação de um ambiente digital mais saudável e seguro.
As plataformas digitais devem fornecer mecanismos acessíveis para que os usuários possam relatar conteúdos ou comportamentos suspeitos, garantindo que essas denúncias sejam tratadas com seriedade e rapidez. A colaboração entre usuários, empresas e autoridades é primordial para identificar e mitigar ameaças emergentes no ciberespaço.
Em suma, a construção de uma internet mais segura depende da adoção de práticas conscientes e responsáveis por parte de todos os envolvidos. Ao incorporar medidas de segurança em nossas atividades diárias e promover uma cultura de conscientização digital, contribuímos para um ambiente online mais protegido e confiável para todos.
Gabriela Mônaco – Advogada na Lee, Brock, Camargo Advogados, especialista em Privacidade, Proteção de Dados, IA e Novas Tecnologias. Pós-graduanda em Contratos (Instituto Legale). Tem especialização em Privacidade e Proteção de Dados (FGV/Law) e graduação em Direito (PUC/SP).